segunda-feira, 29 de março de 2010

UM AMOR COMPLICADO

Tenho 41 anos. Tive uma adolescência complicada, tanto que tenho recordações da minha infância desde antes de completar dois anos de idade. São flashes, de alguns acontecimentos, mas por algum motivo sentia a necessidade de já começar a cuidar de mim mesma desde esse tempo. Meus pais procuraram fazer o melhor, mas eram imaturos. Não bebiam, não fumavam, não se drogavam e eu nunca me lembro de ter apanhado, a não ser uns safanões que às vezes minha mãe me dava, porque sempre fui muito arteira. Hoje, as palavras seriam diferentes, diriam que era uma criança muito esperta e inteligente, mas já nessa época fui aprendendo a amadurecer e conter minha "espontaneidade". Aos 12 anos, tive minha 1ª paixão, mas todos da família foram contra e não deu certo. Aos 13 anos, nos reencontramos, mas apesar de jogar todo charme em cima de mim, começou a namorar minha prima, que na época eu considerava minha melhor amiga e a quem eu confessava meus sentimentos. Não tive apoio de ninguém, aguentei sozinha a minha decepção.
Meu pai foi um homem muito carinhoso para uma criança, mas devido aos traumas da família dele, um pai totalmente repressor para uma adolescente. Minha irmã casou cedo e foi viver a vida dela, mas eu tinha uma sede de vida, de conhecer o mundo, de sair, me divertir, conhecer gente, ir a restaurantes finos, botecos, boates, e para ele, tudo era feio e proibido, menina direita não devia viver assim.

Infelizmente, meu pai morreu cedo, quando eu tinha 24 anos, de maneira trágica. Depois de passado o luto, passei a viver tudo o que antes era proibido. De lá até os 36 anos, só tive namoricos e decepções: o famoso dedo podre. Tive alguns que pareceram que talvez fossem pessoas mais leais e verdadeiras, mas para esses só sobrava o meu desprezo. Sempre escolhia aqueles que não me queriam, ou não me levavam a sério, ou só brincavam com meus sentimentos. Acho que um tipo de boicote inconsciente, paixões que duravam 2, 3 anos e não me levavam a nada. Namoros não passavam de 6 meses.

Aos 36 anos conheci um cara diferente, fisicamente e emocionalmente. Um pai solteiro, já intitulado como complicado por todos que o rodeavam, que por 8 meses insistiu para que ficássemos juntos. Dizia que eu era a mulher que ele sempre tinha esperado, que outras o rodeavam, mas que ele dizia, "Não, é com ela que eu quero ficar". Apesar das dificuldades da vida, sempre fui uma pessoa espontânea e alegre, e foi assim que ele me conheceu. Depois da insistência de 8 meses, achei que era uma pessoa que valeria a pena eu investir, porque deveria ser um desejo verdadeiro, nunca alguém tinha insistido tanto em ficar comigo. Assim começamos a namorar.

Ele é uma pessoa encantadora, sedutor, inteligente, bonito de um jeito especial e o que mais me encantou foi que o achei autêntico, pensando que assim eu também poderia ser. Complicado sim, pai solteiro, com uma mãe que usava o filho como moeda para tê-lo, e depois descobri que eles tinham uma relação marital, mas não carnal. Me vi numa situação completamente diferente, às vezes sendo escondida por ele para que ela não soubesse que ele estava namorando. Demorou 1 ano até que ele me assumisse perante a mãe do filho. Eu não podia frequentar a casa dele, as festas de aniversário do filho, não tinha contato nenhum com o filho. Isso durou dois anos. Dois anos de muito sofrimento, humilhações e solidão.

Nesse tempo, ele foi viajar duas vezes com o filho e a mãe do filho, dias de total desespero para mim. Eu não tinha ciúme dela propriamente, mas sim da posição que ela tinha na vida dele. Existiam passeios dos três no shopping, no clube, nos restaurantes e meus amigos vendo tudo isso, orgulho não é algo fácil de se dominar. Nesse tempo o irmão dele conheceu uma pessoa que foi apresentada ao filho, enquanto eu, a "namorada" de quase dois anos inexistia na vida do filho e continuava não frequentando a casa dele. Tinha contato com os pais dele, com os tios, com os amigos, mas o principal, para o filho, eu não existia. Isso foi demais para mim e resolvi terminar, não suportava mais essa situação de rejeição e exclusão. Isso foi um pouco antes de completar 39 anos.

Ele ficou inconformado, me ligava muitas vezes, tínhamos brigas horríveis. Uma violência emocional. Eu já fazia terapia há algum tempo, mesmo antes de namorá-lo, porque sempre soube que precisava de ajuda profissional, pois fora os grandes amigos que eu tenho, não tenho com quem contar. Ele marcou de viajar com o filho logo após o Réveillon, mas o filho tinha 4 anos e não quis ir sem a mãe. No fim, ele pediu que eu fosse junto com ele já que o filho não iria, e vendo todo o sofrimento dele, engoli mais uma vez o orgulho e fui, pensando que isso não nos faria voltar, pois precisava de uma posição e mudanças concretas na nossa relação, mas acabamos voltando.

Passaram-se dois meses, e nada mudou. Mais uma vez cansada, tomei novamente a posição de terminar a relação, isso 1 semana antes do aniversário dele, pois ele já tinha decidido que iria para a casa dos pais, numa cidade próxima e que eu não iria junto. Não suportei mais essa exclusão e fui viajar com umas amigas, assim ele poderia passar o aniversário com quem era prioridade maior na vida dele: o filho. Deixo bem claro, que nunca tive nada contra o filho, pelo contrário, mesmo sem conhecê-lo, nutria um afeto imenso pela criança, pois verbalmente, ele dividia todas as fases de crescimento e descobertas dele.

Quando voltei, ele passou a me ligar novamente, dizendo que havia falado com a mãe do menino, explicando tudo e dizendo que dali por diante eu iria passar a conviver com o filho, etc., mas eu já havia tomado a minha decisão de esquecê-lo, já não acreditava em mais nada e não perdoava todo o sofrimento que ele havia me infligido. Quando ele me ligou, disse que já não adiantava mais, que o tempo já havia passado e que eu não tinha mais estrutura para suportar essa situação.

Depois de dois meses de muitos telefonemas e de muitas brigas e também eu não atender mais o telefone, pois já estava exaurida, tive um convite de uma amiga para viajar para Buenos Aires. Nessa época, estávamos novamente conversando, e com esperanças de volta, mas quando ele soube que eu iria viajar, acabou comigo. Ele tem esse poder, consegue com poucas palavras fazer eu me sentir o pior dos seres humanos existentes na face da terra. Eu que sempre fui amiga, companheira, que até jogo de futebol assistia com ele.

Depois que voltei, ele um dia inventou que estava passando mal no hospital, e eu saindo da festa de aniversário de uma amiga, fui acudi-lo. Após a consulta, ficamos pelo menos umas duas horas na porta do hospital discutindo as mesmas coisas, ele querendo que eu aceitasse as condições dele e eu dizendo que não iria aceitar, que na verdade não tinha condições físicas para isso, pois eu realmente fico doente com essas situações. Lá naquela porta de hospital, eu dei um prazo de 15 dias para estar almoçando na casa dele com o filho, entrar na casa dele, ter uma vida "normal" de casal de namorados. Mas isso não aconteceu em 15 dias, isso demorou 2 anos para acontecer. Passei até a ir à cidade dos pais dele com o filho, mas voltávamos no mesmo dia.

Nesta época, eu e o filho tínhamos uma ótima relação, mas, mesmo assim, eu podia transar na casa dele, mas tinha que ir embora à noite. Até que em novembro de 2009, cansei dessa história também e dei um ultimato. Queria casar, agora de papel passado e tudo mais, porque achei que somente assim as coisas poderiam se resolver. Ele fez um acordo que eu poderia dormir na casa dele de sábado para domingo, e que depois do Réveillon voltaríamos a conversar sobre isso. Engraçado o que é o amor, eu novamente aceitei essa proposta.

Dia 12 de dezembro de 2009, quando eu fui dormir na casa dele, pela terceira vez, sobrou muita comida do jantar e eu propus que guardássemos para o almoço do domingo, mas ele me respondeu que iríamos almoçar fora, porque ele me deixaria em casa, pois como iria viajar naquela tarde a trabalho, ele não queria que eu estivesse na casa dele quando ele fosse se despedir do filho. Para mim, aquela foi a gota d´água que fez o copo transbordar, nem meu orgulho, nem minha tolerância não conseguia mais suportar isso. Eu que dava comida na boca do filho dele estava excluída desse momento? Acabei dormindo na casa dele porque era tarde e estava tentando ponderar essa situação, mas acordei pior pela manhã e pedi que ele me levasse para casa. Quando ele me deixou em casa, apenas me disse, temos algo pra falar? e respondi: não, não temos mais nada. Ele me disse: 'Vai com Deus' e foi embora.

Nos falamos algumas vezes, sempre brigando, e ele ainda confirmou que o convite para eu passar o Natal na casa da mãe dele era para eu dormir no quarto dos filhos e ele dormir na cama de casal com o filho. Depois disso, resolvi que iria para São Paulo na casa de uma amiga passar o Natal, já que eu não fazia mesmo parte dessa família. Ainda no dia 23 ele me chamou para uma conversa, colocou no papel tudo o que eu queria, disse que tudo era justo, mas que o filho não deveria saber que eu dormia na casa dele. Eu disse que aceitava as limitações dele, mas que infelizmente isso era um ponto crucial, que não fazíamos nada de errado, e que eu respeitava o filho dele e que eu não aceitava para mim essas condições, aliás, não aceitava mais condições nenhuma, não queria mais rejeições, exclusões ou qualquer coisa do tipo.

Fui a São Paulo, mas foi um Natal horrível, fui até à praia, mais depois de dois dias queria voltar para casa, tive uma crise de pânico, de stress, de desespero. Dia 30 de dezembro estava voltando para minha casa. Até hoje não sei como consegui vir naquele ônibus, no vôo atrasado, como cheguei em casa. Liguei para ele dia 31, mas ele estava furioso, me acusou de ter estragado o Natal dele, da família, do filho. Prometi então que não ligaria mais para não estragar mais nada. Depois de 50 dias ele me ligou e passei a atender ao telefone. Um dia nos encontramos no clube e o filho foi me cumprimentar. Levei o filho até ele e ele me beijou e eu correspondi. Logo à tarde ele estava na porta da minha casa, querendo subir, o que eu neguei.
Depois de alguns dias ligou de novo, para eu ir na casa dele, e eu expliquei que não poderia ser assim, que a gente tinha muitas coisas para acertar do que resolver com sexo.

Mas um dia ele me passou uma mensagem, e como estávamos conversando civilizadamente liguei, mas ele surtou e brigamos feio, a ponto de eu passar mal e ter que procurar ajuda no psicólogo. Como falei, ele com poucas palavras consegue me fazer sentir abaixo do chão. Por conselho do psicólogo, não atendi mais aos telefonemas. Liguei apenas no aniversário dele, no que ele insistiu em me ver, mas não respondi nem as mensagens e desliguei o telefone.Depois de quase 20 dias, ele me ligou e atendi, pediu se poderia passar na minha casa e eu aceitei, ele foi super carinhoso, me abraçou, nos beijamos e nos despedimos.

Ele sempre reclamou que todas as vezes que terminamos, sempre é ele que vem atrás, pois tive uma esperança que depois de tanto sofrimento, dele até ter ido ao meu psicólogo, as coisas poderiam melhorar e liguei para ele. Liguei umas 4 vezes, e até me ofereci para buscá-lo no aeroporto, mas o carro dele estava no estacionamento. Ele disse que quando eu fiz isso o coração dele se encheu de alegria. Mas, na ultima ligação que ele me fez, disse que ia na casa de um amigo e precisava levar uma vodka. Eu como tenho algumas fechadas da sobra do meu aniversário, ofereci para ele passar em casa e pegar. Ele se espantou com meu oferecimento e disse que era melhor não porque teria que passar na minha casa. Eu perguntei: Ué, vc não quer me ver? E, sem mais nem menos, esse homem surtou. Disse que eu pensava que ele era um palhaço, que era só eu estalar os dedos que ele voltava, e muitas outras insanidades. Que não era assim, que EU deveria pedir desculpas por não tê-lo atendido muitas vezes, que se eu pensava que depois de tudo isso eu iria levar minhas coisas para casa dele que eu estava muito enganada, envolveu o filho, que eu os tinha abandonado, etc. E eu esperando que ele se tocasse de que uma mulher de 41 anos e um homem de 46 anos, solteiros, não haveria impedimento para sermos companheiros, vivermos juntos e sermos felizes.

É uma pena, pois apesar desses surtos, ele realmente é uma pessoa especial, e sinto que será muito difícil encontrar uma outra pessoa com o entendimento cultural que nós tínhamos. Desperdiçar esses encontros da vida, tão raros hoje em dia, de tanto amor, com neuroses e ainda recusar-se a tratá-las... Entrego nas mãos de Deus, apesar de tudo, valeu pelos bons momentos, pois a balança pendeu negativamente, mas os momentos felizes que eu tive com ele foram os momentos mais felizes da minha vida. Pena que o preço disso tenha sido tão caro e que fisicamente e emocionalmente eu não tenha condições de arcar com isso.

Hoje eu desisto do sonho de ser feliz com esse homem, pois essa gangorra de felicidade e tristeza é capaz de acabar com a insanidade de qualquer ser humano, e eu não quero isso.

Um comentário:

  1. Nossa... que história de amor!!!!!!!!! Por que as pessoas não podem descomplicar suas vidas?
    é tão difícil encontrar alguém que nos ama de verdade ... e quando encontramos... ainda temos que fazer drama de tudo!!!! Por que estas neuras? A gente só precisa é ser feliz

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