segunda-feira, 15 de março de 2010

COMER, REZAR E AMAR

AMEI ESTE LIVRO!!!!! A primeira vez que ouvi falar dele foi assistindo um programa da Oprah quando esta entrevistava a autora, Elizabeth Gilbert. O livro conta a própria história de Elizabeth, que ao completar 30 anos, deu uma reviravolta em sua vida (largou um marido perfeito, um apartamento perfeito, uma casa de campo perfeita, uma carreira de sucesso perfeita) na tentativa de superar a depressão e em busca de auto-conhecimento.  O livro é o relato da autora sobre o ano que passou viajando ao redor do mundo (Itália, Índia e Indonésia). Eu me reconheci no livro de muitas formas. Engraçado, conversei com outras mulheres com mais de 30 anos que também leram o livro e, apesar de terem experiências de vida muito diferentes (casadas, solteiras, divorciadas, com filhos, sem filhos, certinhas, assanhadas), elas também relataram esta sensação de SE VER no livro, de sentir a experiência como sendo sua. Fala sério: Quem é que, depois de completar 30 anos, não pensou em dar uma reviravolta em sua vida? Quem? Quem? Quem? Tá, não é o caso de largar tudo e sair correndo pelo mundo, mas que dá vontade dá .... que faz a gente pensar, faz. O que eu mais gosto do livro é a maneira como Elizabeth fala de si mesma, como retrata sua depressão e ao mesmo tempo consegue ser engraçada, sem ser piegas. Dentro os trechos que mais gosto, destacam-se:

Elizabeth falando sobre a depressão no casamento:
Daquela vez eu não estava em Roma, mas sim no banheiro do andar de cima da grande casa no subúrbio de Nova York que eu acabara de comprar com meu marido. Eram mais ou menos três horas da manhã de um novembro gelado. Meu marido dormia na nossa cama. Eu estava escondida no banheiro pelo que deveria ser a 47a noite consecutiva, e - como em todas aquelas outras noites – estava soluçando. Soluçando com tanta força, na verdade, que uma grande poça de lágrimas e muco se espalhava à minha frente sobre os ladrilhos do banheiro, um verdadeiro lago formado por toda minha vergonha, medo, confusão e dor. Eu não quero mais estar casada. Eu estava tentando tanto não saber isso, mas a verdade continuava a insistir. Eu não quero mais estar casada. Não quero morar nesta casa grande. Não quero ter um filho.... Continuava esperando querer ter um filho, mas isso não acontecia. E eu conheço a sensação de querer alguma coisa, podem acreditar. Sei muito bem o que é desejo. Mas esse desejo não existia. Além do mais, eu não conseguia parar de pensar no que minha irmã tinha me dito certo dia, enquanto amamentava seu primogênito: “Ter um filho é como fazer uma tatuagem na cara. Você precisa realmente ter certeza de que é isso que você quer antes de se comprometer.”

Elizabeth falando da depressão e solidão durante a viagem:
" Depois de cerca de dez dias na Itália, a Depressão e a Solidão acabam me encontrando. Sinto-me contente neste cenário romântico, mesmo estando completamente sozinha, enquanto todas as outras pessoas no parque estão acariciando um amante ou brincando com uma criança risonha. Mas quando paro e me apóio em uma balaustrada para admirar o pôr do sol, acabo pensando um pouco demais, e meus pensamentos se tornam sombrios, e é então que as duas me encontram. Aproximam-se de mim, silenciosas e ameaçadoras como detetives particulares, e me cercam - a Depressão pela esquerda, a Solidão pela direita. Sequer precisam me mostrar seus distintivos. Eu as conheço muito bem. Há anos que temos brincado de gato e rato. Embora eu reconheça que estou surpresa por encontrálas neste elegante jardim italiano ao entardecer. Elas não combinam com este lugar. Pergunto a elas:
' Como vocês me encontraram aqui? Quem disse a vocês que eu tinha vindo para Roma?'
A depressão sempre bancando a esperta, diz:
' Como assim, você não está feliz em nos ver?'
' Vá embora' , digo a ela.
A Solidão, a mais sensível das duas, diz: ' Desculpe, mas eu talvez precise seguir a senhora durante toda a sua viagem. É a minha missão.'
' Eu preferiria que você não fizesse isso', digo-lhe, e ela dá de ombros, quase pedindo desculpas, mas se aproximando ainda mais.
Então elas me revistam. Esvaziam meus bolsos de qualquer alegria que eu estivesse carregando aqui. A Depressão chega a confiscar minha indentidade; mas ela sempre faz isso. Então a Solidão começa a me interrogar, coisa que detesto, porque dura horas. Ela é educada, mas implacável, e sempre acaba me encurralando. Pergunta se eu acho que tenho algum motivo para estar feliz. Pergunta por que estou sozinha esta noite, outra vez. Pergunta (embora já tenhamos passado por esse mesmo interrogatório vezes sem conta) por que não consigo manter um relacionamento, por que arruinei meu casamento, por que estraguei tudo com David, por que estraguei tudo com todos os homens com quem já estive. Pergunta-me onde eu estava na noite em que completei 30 ano, e por que as coisas azedaram tanto desde então. Pergunta por que não consigo me recuperar, e por que não estou nos Estados Unidos, morando em uma bela casa e criando belos filhos, como qualquer mulher respeitável da minha idade deveria fazer. Pergunta por que, exatamente, eu acho que mereço umas férias em Roma, quando transformei minha vida em tamanho caos. Pergunta por que acho que fugir pra Itália como uma estudante universitária vai me fazer feliz. Pergunta onde acho que vou estar quando ficar velha, se continuar vivendo assim.
Volto a pé pra casa, esperando conseguir me livrar delas, mas elas continuam a me seguir, essas duas capangas. A Depressão me segura firme pelo ombro e a Solidão me bombardeia com seu interrogatório. Sequer tenho forças para jantar; não quero que elas fique me espionando. Também não quero que subam as escadas até o meu apartamento, mas conheço a Depressão, e sei que ela carrega um cassetete, então não há como impedi-la de entrar, se ela decidir que quer fazer isso.
' Não é justo vocês virem aqui' , digo a Depressão. ' Já paguei vocês. Já cumpri minha pena lá em NY.' Mas ela simplesmente me dá aquele sorriso sombrio, acomoda-se em minha cadeira preferida e acende um charuto, enchendo o aposento com sua fumaça desagradável. A Solidão olha aquela cena de dá um suspiro, em seguida deita-se na minha cama e se cobre com as cobertas, inteiramente vestida, de sapato e tudo. Estou sentindo que vai me obrigar a dormir com ela de novo esta noite."

Elizabeth fala sobre meditação (parece eu mesma tentando meditar):
Na manhã seguinte, chego bem na hora para a sessão de meditação das quatro da manhã, que sempre inicia o dia aqui. A idéia é passarmos uma hora sentados em silêncio, mas fico contando os minutos como se fossem quilômetros — 60 cruciantes quilômetros que preciso agüentar. Por volta do quilômetro/minuto 14, meus nervos começaram a sofrer, meus joelhos já doem e sou tomada pela irritação. O que é compreensível, já que a conversa entre mim e minha mente durante a meditação, em geral, é mais ou menos assim:
Eu: Tudo bem, vamos meditar agora. Vamos levar a atenção para a respiração e nos concentrar no mantra. Om Namah Shivaya. Om Namah Shiv...
Mente: Posso ajudar você a fazer isso, sabe?
Eu: Tudo bem, ótimo, porque preciso da sua ajuda. Vamos lá. Om Namah Shivaya. Om Namah Shi...
Mente: Posso ajudar você a pensar em imagens legais para meditação. Como, por exemplo... ei, essa aqui é boa. Imagine que você está em um templo. Um templo em uma ilha! E a ilha está no oceano!
Eu: Ah, essa imagem é legal mesmo.
Mente: Obrigada. Fui eu mesma que inventei.
Eu: Mas qual é esse oceano que a gente está imaginando?
Mente: O Mediterrâneo. Imagine que você está em uma daquelas ilhas gregas, com um antigo templo grego. Não, esqueça isso, é turístico demais. Sabe o que mais? Esqueça o oceano. Oceanos são perigosos demais. Tenho uma idéia melhor: em vez disso, imagine que você está em uma ilha em um lago.
Eu: Será que a gente pode meditar agora, por favor? Om Namah Shiv...
Mente: Isso mesmo! Ótimo! Mas tente não imaginar que o lago está coalhado de... como é que se chamam aqueles negócios...
Eu: Jet-skis?Mente: Isso! Jet-skis! Como esses troços consomem gasolina! Eles são mesmo uma ameaça para o meio ambiente. Você sabe o que mais usa muito combustível? Sopradores de folhas. É, não dá nem pra imaginar, mas...
Eu: Certo, mas agora vamos MEDITAR, por favor? Om Namah...
Mente: Isso! Quero mesmo ajudar você a meditar! E é por isso que a gente vai desistir da imagem da ilha no lago ou no oceano, porque é óbvio que não está funcionando. Então vamos imaginar que você está em uma ilha em... um rio!
Eu: Ah, você quer dizer tipo a Ilha Bannerman, no rio Hudson?
Mente: Isso! Exatamente! Perfeito! Portanto, para concluir, vamos meditar sobre essa imagem... imagine que você está em uma ilha no meio de um rio. Todos os pensamentos que passam flutuando enquanto você medita são só as correntes naturais do rio, que você pode ignorar, porque você é uma ilha.
Eu: Espere aí, pensei que você tivesse dito que eu era um templo.
Mente: É, é isso, desculpe. Você é um templo sobre uma ilha. Na verdade, você é ao mesmo tempo o templo e a ilha.
Eu: Eu sou o rio também?
Mente: Não. O rio são apenas os pensamentos.
Eu: Chega! Por favor, pare! VOCÊ ESTA ME DEIXANDO LOUCA!!!
Mente (magoada): Desculpe. Eu só estava tentando ajudar.
Eu: Om Namah Shivaya... Om Namah Shivaya... Om Namah Shivaya...
Há uma pausa promissora nos pensamentos que dura oito segundos. Mas então...
Mente: Você agora está brava comigo?
... e então, com um grande arquejo, subo à superfície para tomar ar, minha mente vence, meus olhos se abrem de repente e eu desisto. Aos prantos. Um ashram é supostamente um lugar aonde você vai para aprofundar a sua meditação, mas isto aqui é um desastre. A pressão é demais para mim. Não consigo. Mas o que eu deveria fazer? Sair correndo do templo chorando depois de 14 minutos, todos os dias?Esta manhã, porém, em vez de lutar, simplesmente parei. Desisti. Deixei-me desabar junto à parede atrás de mim. Minhas costas doíam. Eu não tinha forças, minha mente fraquejava. Minha postura despencou como uma ponte que desmorona. Tirei o mantra de cima da minha cabeça (onde ele estava me empurrando para baixo como uma bigorna invisível), e coloquei-o no chão ao meu lado. E então disse a Deus: "Mil desculpas, mas isso foi o mais perto que consegui chegar do senhor hoje."

Então, vcs devem estar se perguntando: Por que a Julia Roberts aparece nas fotos desta postagem? Porque a maravilhosa está gravando (ou já gravou) uma versão do filme para o cinema. Eu com certeza não vou perder, mas antes quero ler o livro outra vez. Quem quiser pode baixar o livro da internet e ler em seu computador, mas eu prefiro o livro na mão, uma rede, uma água de côco e tempo pra pensar sobre a vida.


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