domingo, 14 de fevereiro de 2010

AINDA TENTANDO ENTENDER AS DIFERENÇAS ENTRE AMOR E PAIXÃO

Já mencionei em outra postagem o livro AS CINCO LINGUAGENS DO AMOR.
Vamos retomar um trecho do capítulo inicial, no qual o autor fala sobre a paixão e o amor.


Estar apaixonado (a) é uma experiência eufórica. Um fica emocionalmente obcecado pelo outro. Dor­me-se pensando nele (nela). Levanta-se e aquela pessoa é a primeira coisa que nos vem à mente. Ansiamos por estar jun­tos. Gastar tempo um com o outro é como estar na antecâmara do céu. Quando andamos de mãos dadas, é como se nossos corações batessem no mesmo compasso. Beijaríamos um ao outro para sempre, se não tivéssemos de ir à escola ou ao trabalho. O abraçar estimula sonhos de casamento e êxtase. O rapaz apaixonado tem a ilusão de que sua amada é perfeita...
Somos levados a acreditar que, se realmente estivermos apaixonados, esse amor durará para sempre. Os maravilho­sos sentimentos dos quais partilhamos no momento nos acompanharão até o fim de nossas vidas. Nada se interporá entre nós. Estamos enamorados e aprisionados pela beleza e charme da personalidade um do outro. Nosso amor é a me­lhor coisa da qual já desfrutamos. Notamos que alguns ca­sais chegaram a perder esse sentimento, mas isso nunca acon­tecerá conosco. Fazemos, portanto, a seguinte colocação: “É possível que eles nunca tenham sentido um amor verdadeiro como o nosso!”
Infelizmente, a eternidade da paixão é uma ficção e não um fato. A psicóloga Dorothy Tennov desenvolveu longos estudos sobre este fenômeno. Após estudar os comportamen­tos entre os casais, ela concluiu que o tempo médio de exten­são da obsessão romântica é de dois anos. Se a paixão foi um fruto proibido, talvez dure um pouco mais. Eventualmente, todos nós descemos das nuvens e pisamos com nossos pés em terra novamente. Nossos olhos abrem-se e passamos a enxergar as “verrugas” da outra pessoa. Descobrimos que alguns de seus traços de personalidade são realmente irri­tantes. Seus padrões de comportamento aborrecem-nos. Pos­suem também capacidade para machucar e irar-se, e utili­zam também palavras duras e julgamentos críticos. Esses tra­ços que não percebemos quando estávamos apaixonados tornam-se agora enormes montanhas. Então nos recordamos das palavras ditas por nossa mãe e perguntamos a nós mes­mos: “Como pude ser tão tolo?”
Bem-vindos ao mundo real do casamento, onde fios de cabelo sempre estarão na pia e respingos brancos da pasta de dente estarão no espelho; discussões ocorrem por causa do lado de se colocar o papel higiênico: se a folha deve ser puxada por baixo ou por cima. E um mundo onde os sapa­tos não andam até o guarda-roupa e as gavetas não fecham sozinhas; os casacos não gostam de cabides e pés de meia somem quando vão para a máquina de lavar. Nesse mundo, um olhar pode machucar, uma palavra pode quebrar. Aman­tes podem tornar-se inimigos e o casamento um campo de batalha sem trégua.
O que aconteceu com a paixão? Que coisa! Foi uma ilu­são que nos enganou e levou-nos a assinar nossos nomes na linha pontilhada... na alegria e na tristeza. Não é de se admi­rar que tantos amaldiçoem o casamento e o ex-cônjuge, a quem um dia amaram. Além disso, se fomos enganados, te­mos o direito de ficar bravos. Será que foi realmente amor? Acho que sim. O problema é que houve falta de informação... A experiência da paixão não possui enfoque em nosso próprio crescimento, nem no crescimento e desenvolvimento do cônjuge. Dificilmente também fornece o senso de realização.
Alguns pesquisadores, entre eles o psiquiatra M. Scott Peck e a psicóloga Dorothy Tennov, chegaram à conclusão de que a experiência da paixão não deveria, de forma algu­ma, ser chamada de amor. Dr. Peck concluiu que o apaixo­nar-se não é amor verdadeiro, por três razões: Primeira, apaixonar-se não é um ato da vontade nem uma escolha consciente. Não importa o quanto desejemos, não con­seguimos apaixonar-nos voluntariamente. Por outro lado, mes­mo que não busquemos essa experiência, ela pode, simples­mente, acontecer em nossa vida. Muitas vezes apaixonamo-nos no momento errado e pela pessoa errada!
Segunda, apaixonar-se não é amor verdadeiro porque não implica em nenhuma participação de nossa parte. Qualquer coisa que façamos apaixonados, requererá pouca disciplina e esforço. Os longos e dispendiosos telefonemas realizados, o di­nheiro gasto em viagem para ficarmos juntos, os presentes, e todo trabalho envolvido, nada representam. Da mesma forma que os pássaros constroem instintivamente seus ninhos, a na­tureza da pessoa apaixonada impulsiona na realização de atos inusitados e não naturais, de um para com o outro.
Terceira, a pessoa apaixonada não está genuinamente in­teressada em incentivar o crescimento pessoal daquela por quem nutre sua paixão. “Se temos algum propósito em mente ao nos apaixonarmos, é o de terminar nossa própria solidão e, talvez, assegurar essa solução através do casamento”. A paixão não se focaliza em nosso crescimento pessoal e nem tampouco no da outra pessoa amada. Pelo contrário, a sensação é a de que já se chegou onde se deveria alcançar e não é necessário crescer mais. Encontramo-nos no ápice da felicidade e nosso único de­sejo é continuar lá. E nosso (a) amado (a), naturalmente, tam­bém não precisa mais crescer, pois já é perfeito (a). Esperamos somente que ele (ela) mantenha essa perfeição.
Se apaixonar-se não é amor, então o que é? Dr. Peck afirma: “E um componente instintivo e geneticamente de­terminado do comportamento de acasalamento. Em outras palavras, um colapso temporário das reservas do ego que constituem o apaixonar-se; é uma reação estereotipada do ser humano a uma configuração de tendências sexuais inter­nas e estimulações sexuais externas, as quais designam-se ao crescimento da probabilidade da união e elo sexual, ten­do em vista a perpetuação da espécie”.
Quer concordemos ou não com essa conclusão, os que dentre nós se apaixonaram e também saíram desse estado de paixão, concluirão que essa experiência arremessa-nos a uma órbita emocional diferente de qualquer outra que porventura experimentamos. A tendência é o rompimento com a nossa razão, o que nos leva a fazer e a dizer coisas que nunca faríamos, ou diríamos em momentos de maior sobrie­dade. De fato, quando saímos desse estado de paixão, ques­tionamos como pudemos ter feito tais coisas. Quando a onda da emoção passa e voltamos ao mundo real, onde as diferen­ças são notórias, quantos de nós fizeram para si a pergunta: “Por que me casei? Não combinamos em nada!” No entan­to, quando estávamos no auge da paixão, pensávamos que com­binávamos em tudo — pelo menos, em tudo que era importante. Isso significa que, por termos sido “fisgados” dentro da ilusão da paixão, encontramo-nos agora frente a duas opções: 1 — estamos destinados a uma vida miserável com nosso cônju­ge, ou 2 — devemos nos separar e tentar novamente? Nossa geração tem optado pela última decisão, ao passo que a anteri­or escolheu a primeira. Antes de concluirmos automaticamen­te o fato de que fizemos a melhor escolha, devemos examinar os dados. Atualmente, 40% dos primeiros casamentos, nos Es­tados Unidos, terminam em divórcio; 60% dos segundos e 75% dos terceiros, também. Pelo que se pode ver, a perspectiva de um segundo e terceiro casamentos felizes, não é muito atingi­da.
As pesquisas realizadas parecem indicar que existe uma terceira e melhor alternativa: reconhecer que a paixão é o que é — um pico emocional temporário — e então desenvol­ver o amor verdadeiro com nosso cônjuge. Esse tipo de sen­timento é de natureza emocional, mas não obsessivo. É o amor que une razão e emoção. Envolve um ato da vontade e re­quer disciplina, pois reconhece a necessidade de um cresci­mento pessoal. Nossa necessidade emocional básica não é apaixonar-se, mas ser genuinamente amado (a) pelo outro; é conhecer o amor que cresce com base na razão e na escolha e não no instinto. Preciso ser amado por alguém que escolheu me amar, que vê em mim algo digno de ser amado...
Amor racional, volitivo é o tipo de amor para o qual os sábios nos conclamam.
Essa é uma boa notícia aos casais que perderam seus sentimentos de paixão. Se o amor é uma opção, então eles possuem a capacidade de amar após a experiência da paixão haver passado e regressarem ao mundo real. Esse tipo de amor inicia-se com uma atitude — o modo de pensar. Amor é a atitude que diz: “Sou casado (a) com você e escolho lutar pelos seus interesses!” Então, os que optam por amar encontrarão formas apropriadas para demonstrar essa decisão.
Alguém pode comentar: “Isso parece tão estéril! Amor como uma atitude e com um comportamento apropriado? Onde estão as estrelas cadentes e as fortes emoções? Onde ficam a ansiedade do encontro, a piscada de olho, a eletricidade do bei­jo e o entusiasmo do sexo? E a segurança emocional de se saber que ocupamos o primeiro lugar na mente da outra pessoa?”

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