sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

TRÊS CASOS DE SEPARAÇÃO

Já estive envolvida, direta ou indiretamente, em alguns processos de separação.
Quando ainda era adolescente, uns 12 ou 13 anos, meus pais se separaram por um período. Por muito tempo apaguei estas memórias .... só tinha alguns frashes na cabeça ... marido ausente, mulher insatisfeita, viagem de férias, briga, mulher pega o carro e vai embora, marido chora e enche a cara no bar, mulher pega as crianças e sai de casa, filha mais velha fica com o pai, descoberta de infidelidade, brigas, tentativas de reconciliação, reconciliação, volta pra casa. Deixei propositalmente tudo fragmentado pra tentar não me envolver, mas hoje, depois dos trinta, posso compreender perfeitamente os sentimentos e as tensões envolvidas. Posso compreender perfeitamente a negligência que levou minha mãe a querer a separação, posso entender também o que ela sentiu quando não a apoiei e fiquei com meu pai e como este fato quebrou nossa relação como um vaso caído da mesa e colado com super blonder .... ainda é um vaso, mas não é a mesma coisa. Não me culpo porque era uma criança, não tinha condições de lidar com tudo aquilo.
Já no final da adolescência, aos 17 anos, comecei a vivenciar situações do casamento daquela que seria minha sogra até hoje. Depois dos anos dourados de casamento (três filhos maravilhosos, bom emprego, dinheiro, mãe dedicada exclusivamente aos filhos, ótimo sexo), começa o período de crise (perca do emprego, aposentadoria prematura, filhos já criados querendo seguir com suas próprias vidas, falta de dinheiro, mulher dando uma guinada na própria vida, marido depressivo se apoiando no alcool para lidar com as situações, filhos que apoiam a mãe e não sabem como ajudar o pai). Não participei dos anos dourados, só ouvi histórias e vi fotos que comprovavam que eles existiram. Quando cheguei a família, o período de crise já estava instalado e eu participei dele por pelo menos 15 anos .... vi de perto um casamento de duas pessoas que se amavam profundamente desde de crianças se deteriorando, vi todos os desencontros, ouvi muitas das brigas, estava presente quando assinaram o papel de separação e acima de tudo, presenciei os três anos de silêncio que se abateram entre estas duas pessoas que ainda se amavam. Três anos após a separação, meu sogro descobriu o câncer. Foi implacável, em quatro meses não havia mais nada a ser feito, já estava em coma há algumas semanas. Mesmo as megeras das cunhadas sabiam o óbvio ... ele não morreria enquanto ela não fosse lá.... mas ela se negava. Foram 65 dias em coma até ela tomar coragem, sua única exigência era que eu fosse com ela. Eu vi um homem em coma chorar e soltar um suspiro ao ouvir a mulher que ele amava dizer que pedia perdão e que também o perdoava. Eu estava em seu enterro no dia seguinte.
O terceiro caso é daquelas amigas que começam a namorar na mesma época que você e os dois casais vão vivendo situações parecidas quase que na mesma época.... namoro, viagens, preparativos pro casamento, jantarzinhos na casa do casal, preparativos para gravidez, batizado e assim por diante. No caso desta amiga, participei ativamente de seus oito anos de namoro e de sua separação do marido após um ano de casamento. Não podia acreditar que ela estava se separando, era como se a sensação de derrota dela fosse minha também pois eu estivera alí todo este tempo e também não fui capaz de prever que não ia dar certo. Como pudemos ser tão cegas? Como pudemos nos enganar desta forma? Como superaríamos aquela situação? Bom, eu sofri com ela, mas ela foi mais forte ... retomou a vida de solteira (sendo que neste momento eu já não me encaixava tão bem pois já era casada) e seguiu em frente. Pra mim só ficou a sensação de derrota, a sensação de que, se aconteceu com ela, poderia acontecer comigo, com qualquer pessoa. Ela seguiu para o segundo casamento, mas desta vez nós não compartilhávamos as mesmas memórias, não tínhamos intimidade com o novo marido, nem mesmo morávamos na mesma cidade. Me conformei, fiquei feliz por ela e a sensação de derrota passou ... até ontem, quando ela ligou dizendo que está se separando pela segunda vez. Mais uma vez, compartilhei a mesma sensação de 10 anos atrás ... a sensação de derrota ... a incredulidade de pensar que, de novo, nós erramos, nós não vimos o que talvez era óbvio, nós acreditamos e fomos traídas. É incrível como tomo pra mim o sentimento que na verdade só pertence a ela. Deve ser isto que defini a amizade.
Bom, após a separação e o luto que ela causa, creio que só resta um estrada a sua frente ... e como diz a propaganda de whisky... KEEP WALKING.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

APAIXONADA AOS 15, 20, 30, 40, 50

Pra falar de paixão, vou ter apelar pra música sertaneja.

CADA VOLTA É UM RECOMEÇO (Zezé di Camargo e Luciano)
Meu coração esquece tudo o que você me fez
E eu volto pra esse amor insano sem pensar em mim
Pra recomeçar já sabendo o fim
Mas é paixão
E essas coisas de paixão não tem explicação
É simplesmente se entregar, deixar acontecer
E eu sempre acabo me envolvendo com você

Nesses desencontros
Eu insisto em te encontrar
Como se eu partisse, já pensando em voltar
Como se no fundo eu não pudesse existir sem ter você
Toda vez que eu volto, eu te vejo sempre igual
Como se a saudade fosse a coisa mais banal
E eu chegando sempre como um louco pra dizer
Que amo você... amo você
Que me leve pela vida o coração
Como versos pra canção
Volto pra você, volto pelo amor
Não importa se é um sonho pelo avesso
Cada volta é um recomeço

Como é bom, mas como dói estar apaixonada. Será que isto muda com a idade? Minhas fontes apontam que sim e que não..... Calma, vou explicar.
Lembro de ter me apaixonado duas vezes na adolescencia e nestas duas vezes eu me apaixonei pelo beijo. Vou explicar: o primeiro garoto estudava na minha sala e as meninas eram louca por ele... eu nunca tinha visto nada de mais... em uma festa de aniversário começamos a conversar e fomos pra um lugar mais escuro .... até então eu estava naquela de ... mal não pode fazer, vamos ver.... quando este garoto finalmente me beijou minha cabeça começou a rodar .... eu sentia que aquele beijo era demais, que tinha algo nele que eu não estava esperando ... quando o beijo acabou eu já tava apaixonada ... totalmente apaixonada. Bom, nos beijamos outras várias vezes por vários meses mas ele nunca quis namorar comigo... e eu fazia a linha...To nem aí, To nem aí, mas no fundo eu tava me matando. Um dia o vi beijando outra menina... chorei pelo menos umas 5 horas seguidas .... acordei inchada e totalmente recuperada. Estava decidida a me apaixonar de novo. A segunda paixão veio uns 2 anos depois ... eu já tinha beijado outros garotos, mas aquela paixão que eu senti não acontecia mais. Numa festa, um rapaz conhecido me chamou pra dançar e começou a tentar me beijar.... eu, de novo, pensei .... Não tenho nada a perder.... ele me beijou e cabum.... de novo.... quase cai na pista .... sai da festa apaixonada.... resumindo a história ... virei minha vida do avesso, fui contra tudo e contra todos e casei com ele.
Uma amiga na casa dos 30 se separou do marido (primeiro e único homem até então) e pela primeira vez saiu com um outro homem. Achei engraçado quando ela me disse que não tinha mesmo certeza que gostava dele.... que tava querendo ter uma experiência e que ele parecia um boa opção, parecia confiável. Bom, lá foi ela pro motel com ele e .... ele a beijou .... ela descreveu que quando ele a beijou ela quase desmaiou ... fazia pelo menos 10 anos que não era beijada daquela maneira, com tanto tesão .... ela me disse que quando deitou na cama já estava apaixonada.... não é a toa que ela é minha amiga ... se apaixona pelo beijo. Bom, resumindo ela é apaixonado pelo cara até hoje mas, detalhe, ele é casado.... aí começa outra história...
Mas o mais surpreendente aconteceu com uma colega de trabalho na casa dos 50 anos.... ela é uma mulher poderosa, bonita, bem sucedida com 2 casamentos e 2 separações no currículo. Todas julgamos que esta mulher é uma rocha, sólida como eram as torres do WTC. Bom, estava sabendo que ela estava de namorado novo e estava feliz por isto, mas quando nos encontramos em um congresso da nossa área, ela estava muito, muito abatida. Me contou que ficou sabendo que ele as vezes se encontrava com outra mulher.... ela ficou tão irada que remeteu os e-mails comprometedores pra deus e todo mundo e ligou pra irmã e pro chefe dele .... literalmente jogou a merda no ventilador. Disse a ela pra relaxar... pra tentar esquecer pelo menos por enquanto e eu e outras amigas a convencemos a sair com a gente. Péssima ideia... chegamos na boate e ela sumiu .... eu a encontrei no banheiro, no chão, com as mãos abraçando os joelhos e quando me abaixei e perguntei o que podia fazer por ela ... ela disse: "Ele não atende meus telefonemas". Neste momento vi que paixão é paixão em qualquer idade .... Conversamos muito, levamos ela pro hotel .... resumindo, ele negou e ela preferiu acreditar eu acho .... a gente chama o cara de OSAMA porque ele abalou as estruturas do WTC. Pra mim, esta amiga continua sendo uma mulher poderosa, mais poderosa agora porque ela ousou se deixar apaixonar. Este acontecimento me deu a oportunidade de ver que ela também é humana, que ela é mulher como todas nós.
Bom, por fim, concluo que paixão é paixão em qualquer idade, talvez seja mais fácil superar o fim da paixão quando se é mais jovem porque sabemos que temos a vida inteira pela frente. A idade talvez nos traga menos capacidade de lidar com o fim da paixão. Na verdade, "estas coisas de paixão não tem explicação" como diz o cancioneiro popular.

domingo, 17 de janeiro de 2010

LIGANDO PARA AS AMIGAS

Sabe aquele conversa .... que a gente tem que cultivar as amizades... que sem amigos a vida é vazia .... bla, bla, bla, bla, bla.... é pura verdade.
Não precisa ser nenhum gênio pra entender ... Tem horas (principalmente depois dos 30) que a gente fica se perguntando se seguiu o caminho certo.... e pensando como seria não ter casado, ter casado com outro, ter tido mais um filho, não ter tido filhos, ter beijado aquele amigo do escritório na festa de final de ano, não ter beijado aquele chato da boate que mordeu sua boca ..... e daí? com quem conversar? como saber? Ligando para as velhas amigas e descobrindo que elas também vivem as mesmas dúvidas.
Bom, nossa história começa em um dia em que a depressão estava dando indícios de estar achando o caminho de volta a este corpo. Resolvi colocar crédito no skipe (estou morando fora do país) e começar a ligar para 4 amigas.
A primeira delas é minha amiga há pelo menos 3 anos. Primeiro amigas no mestrado, ficamos mais íntimas quando descobrimos que estávamos passando por sérias crises no casamento e nos apoiamos uma na outra. Foi como voltar a adolescência e encontrar a melhor amiga... aquela que a gente fica grudada o tempo todo. Sabemos muitos segredos uma da outra .... chamamos nossa amizade de pacto, apenas Pacto .... bom, ela me contou sobre as víboras que trabalham como ela tinham armado uma armadilha ... sobre como seu marido continua distraído em relação a suas necessidades .... sobre a sua angústia diante da impossibilidade de engravidar e da viagem que vai fazer a Paris no próximo mês.
A segunda ligação foi para uma amiga que tem feito parte da minha vida há mais de 16 anos. Nossa amizade é marcada por alguns períodos de separação, de falta de contato, mas isto realmente não importa porque quando nos encontramos metralhamos a falar e contar tudo uma para a outra .... chamamos nossa amizade de Pacto dos Biscoitos de Beverly Hills (não posso explicar porquê, é segredo). Bom, esta amiga está no segundo casamento, com um marido que dá show de bola na cama (segundo ela, claro) mas, pra minha surpresa, ela disse que está considerando a separação, uma vez que o marido é muito introspectivo e não quer compartilhar a vida com ela (bom, sem mencionar o fato dele ter 2 filhas do primeiro casamento e não querer reverter a vasectomia para que ela possa engravidar). Fiquei triste quando ela me disse que já queria ter uma família estruturada, que estava na dúvida entre começar tudo de novo ou simplesmente se contentar com o que tinha .... mas esta minha amiga não se conforma com metades ... é tudo ou nada pra ela ... como ela mesma diz.... "EU NASCI PRA SER FELIZ .... mesmo que eu tenha que dar com a cara no muro... eu prefiro me estrupiar do que viver pela metade". Com esta amiga aprendi que há coisas dentro de uma mulher que são inacessíveis a qualquer homem.... há coisas na alma feminina que só as próprias mulheres podem entender.
A terceira amiga é uma figuraça .... chamo ela de maluquete ....nos conhecemos desde o maternal ..... éramos inimigas na pré-escola .... amiguinhas no primário .... amigas no ensino fundamental .... depois reencontrei-a quando ela fez faculdade com meu marido .... acompanhei todo o namoro, o nascimento da filha dela ainda na faculdade .... o nascimento do segundo filho muito próximo do nascimento do meu .... o nascimento do terceiro filho .... e a separação do marido. Foram períodos de proximidade e distância por causa do trabalho, da mudança de cidade.... mas em 2009 nos reencontramos e ela realmente precisava de alguém pra conversar, assim como eu. Deu-se assim o Pacto de Sangue, como chamamos a nossa amizade. Ela é certamente a pessoa com quem eu mais dou risada na vida .... nós duas juntas nos bastamos ..... nem a gente se aguenta quando estamos juntas..... Bom, na ligação recebi uma notícia bomba ... ela está grávida de um rapaz com quem estava saindo há um ano .... filho número 4.... e disse que estava muito feliz apesar do pai da criança ser uma cabeça de vento. Eu dei aquele sermão do "Eu te disse... eu te disse...." e eu tinha dito mesmo "Fica com ele ... transa com ele ... mas não vai me engravidar dele." Bom, ela vai abrir um novo negócio e mudar de cidade ... creio que este recomeço será bom para ela.
A quarta ligação foi para uma amiga recente, nos conhecemos há apenas 1 ano. Nossa amizade é chamada de Pacto da Cartomante .... vcs podem imaginar o porquê.... fomos juntas a cartomante e a mulher era realmente boa... começou a falar sem parar e acabamos sabendo tudo da vida da outra. Ela tem um filho e é separada.... ama um homem há 4 anos ... detalhe .... só o viu pessoalmente uma vez .... só fala com ele por internet .... ele quer ser monge budista. Bom, eu não entendo ela.... não poderia porque só sei amar o que posso tocar... mas respeito seus devaneios e torço por esta história de amor maluca.
Duas ou três horas depois de começar a ligar, percebi que os sintomas da depressão já tinham passado ... acho que ela chegou perto mas eu estava ocupada tentando entender o universo feminimo ... ela deve ter achado que eu ia demorar muito e foi embora.
Torço pelas minhas amigas, pela felicidade delas da mesma forma que torço pela minha felicidade.
Quero ficar velhinha com elas ao meu lado.